quinta-feira, 9 de abril de 2009

Verso e Poesia: A Cadeia de Chronos








Me falta tempo.
Todo dia o relógio com seus grilhões temporais tenta me prender.
Esquematizar e tornar cartesiano aquilo que eu deveria ser.
Ser, viver, fazer, pensar, agir...
Todo o meu tempo o tempo tenta controlar.
Já não bastasse o fato de que a vida é curta e a juventude passageira,
O cronograma tenta o tempo todo me manipular.

Me fatiga o tempo.

Levantar, trabalhar, estudar, comer, dormir, e levantar...
O ciclo sem fim, a prisão aparentemente perpétua.
São 60 minutos, 24 horas, 7 dias, 12 meses e já não sei quantos anos
Me fazem desfalecer os açoites e torturas do impiedoso Chronos.
Se os dias do cotidiano são uma corrida em que compete eu e o meu eu realizado
Ele está me deixando sempre em segundo lugar.
E o pior, cansado de todo santo dia sempre tentar e nada ganhar.

Me frustra a presença do tempo.

Quando eu o tenho, desperdiço com futilidades,
Quando me falta, parece vir toda a inspiração aliada a habilidades.
Ah! Ócio criativo
Como queria ter aproveitado melhor a sua deixa.
Mil e um talentos pulsando dentro de mim
E não há tempo pra usá-los, por isso a minha queixa!
Por que existe, ó Tempo?
Não seria mais simples apenas nos deixar e não mais nos importunar!?
Não sei quanto mais tempo te agüento!

Me confunde o tempo.

O período entre dia e noite parece simplesmente ser relativo
Isso de acordo com a qualidade do tempo que passo.
Se há frustração ou tédio, o dia tem 48 horas,
Quando há diversão e alegria, parece ter 4.
Lento e sofrido é o quinteto "segunda à sexta”,
Mas veloz como uma pestanejada é a duração do fim de semana.
Este é o tempo visto de uma percepção humana
Parece que zomba, prega peças, engana.
E assim segue-se a vida pós-moderna
Com o inalcançável almejo de encontrar nela
Algo além de uma espera quase eterna.

Mas um dia me deixará o tempo.

Os grilhões serão soltos, o ciclo desistirá de existir.
Alcançarei a faixa da realização no fim da corrida
E só me restará sorrir.
Se o descanso que aguardava não viesse e findando assim o cronograma,
Nada teria sentido.
Pra que tanto trabalho e espera
Se no fim o que é cinza não fosse premiado com o seu colorido?
Não sei muitos detalhes quanto à isso,
Mas alguém que subjugou o tempo me prometeu que eu poderia ser atemporal.
Em um lugar onde não há mais lágrimas, fatiga ou frustração
E a euforia não é mais um evento casual

Enfim, neste fim já não haverá mais o chinfrim.

Desilusões no botequim
Brigadeiro trocado por quindim
Livros com termos em latim
Nota vermelha no boletim
Homem de meia-idade com pedra no rim
Nem superpopulação e pobreza em Pequim
E não mais serão lembrados os infinitos dias de expediente na empresa
Notícias sobre destruição da natureza
Criminalidade na redondeza
Nem o dócil lembrará que foi tratado com aspereza
Cessarão os prantos de Tereza
E de Curitiba não se levará a frieza.
No desvanecer do tempo, se findará com ele a sua tristeza.
E será neste clímax do histórico de tempo do universo,
Que traz seu passado e atualidade,
Que aquilo que conhecemos com o frustrante e passageiro tempo,
Será substituído pela primorosa excelência da Eternidade


(Guilherme de Souza Dias)


2 comentários:

  1. Sempre me questiono: "Por que existe, ó Tempo?" e rapidamente me torno melancólica, mas então me consola lembrar da "primorosa excelência da Eternidade".
    Você me impressiona Gui.
    Bjs

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